quarta-feira, 1 de novembro de 2023

 A porta está fechada

Já fazem algumas luas 

As estrelas estiveram lindas 

Mas distantes

Faz frio e não fiz cobertores 

Tem uma música linda no horizonte, já não danço

Algo me chama, talvez a despedida

Tem uma corda que me puxa

Estou fora de casa, a porta está  fechada.

segunda-feira, 30 de outubro de 2023

 Recolho em palavras

Histórias recortadas

A esperança briga com as dores 

A menina fala do presente que não teve

O menino sonha em ser policial 

O amor entrelaça todas as histórias  

Fixadas com espinhos

Roubo as narrativas 

Misturo as vidas

Invento verdades

Escritas com sangue.

quinta-feira, 26 de outubro de 2023

 Quando me perdi

Estava me encontrando 

Aos  12 anos  tomava cachaça

Rezava o pai nosso

Carimbava a cidade

Estava aprendendo a dançar com a língua 

Nas entranhas alheia

Ainda era menino

Dormir nos braços da noite 

E nos abraços  provisórios

Quando me encontraram 

Só conheciam as flores plásticas

Eu tenho  cheiro e um moinho de histórias 

Coisas e gente não se   separam

Se moem

quarta-feira, 25 de outubro de 2023

 O  menino traquinava sorrisos 

Faz muito tempo  que o  desvejo

Talvez tenha me perdido dele 

O encontrei outro dia,  sorria

Parecia feliz, 

Segurava um telefone antigo 

Mas não entendia dos números 

Talvez quisesse falar com alguém 

Estava de camisa xadrez com seus botões

Deu vontade de trazer para  casa

Mas nos desencontramos 

Talvez ele esteja aqui, pertinho 

Estou tentando encontrar

O  Traquinador de  sorrisos.

sábado, 21 de outubro de 2023

 Andava, nadava, dançava 

Decepei as pernas e os braços

Balanço na rede e no redemoinho de palavras 

A rua enterrou as flores

E as horas enganchou o ponteiro

As lágrimas

Andam, nadam e dançam

O galo  hoje não cantou 

Deu a vez ao poeta 

Cansado, o poeta também não cantou

O poeta lembrou de Kássia Luiza, poeta também 

Poeta desde que a dor  chegou como palavra, 

Ela costura  versos 

Diz que quer celebrar um novo mundo

e ser capaz de   suportar a cidade 

Apenas treze anos, já poeta

Mas quem disse que poesia tem idade? 

A vida não é literatura, quem dera 

Mas a literatura é a vida

Por isso decepo pernas e braços

Encontro com a poeta no fim do caminho e começo a plantar flores.

sexta-feira, 20 de outubro de 2023

Na varanda rasgo as últimas palavras

para compor um poema incompleto 

Noite deserta

O punhal perfura o escuro 


Sangra o peito do tempo


O tempo não tem peito


O punhal briga com o vento


Cansado, desmorono da varanda


deslizo entre os galhos das roseiras


Sangra


as palavras voam 


O tempo que não tem peito


são como as águas dos rios


Passam.




quinta-feira, 19 de outubro de 2023

 Trago o soluço e a  barriga trêmula

É despedida 

O céu fica colorido, 

Como  a esperança do reisado 

Que esconde por trás das cores 

A ferida em vulcão

Os tambores precisam ser tocados

Canto fúnebre, celebração de reencontro

Trago as batidas orquestradas 

Na pele do corpo

Corpo tambor

É preciso ir ao sol

Refazer o som

Tocar a revoada.

quarta-feira, 18 de outubro de 2023

 Esperei o verso verde, novo e bordado 

Estendi a tigela, a moeda tinha duas faces, 

Escolhi par, lançado o dado

Deu impar 

O tecido ficou no bastidor 

Aguardado o abraço dos fios

Que desapareceu 

Como as sereias 

Que deixam apenas o mar.

quarta-feira, 11 de outubro de 2023

 A mangueira canta, o desfile das águas

É manhã, a larangeira se banha

O trem marcha, as casas tremem 

A flor desabrocha

A mulher toma café no meio do caminho, anda rápido 

Busca o pão e se desencontra da poesia

A mangueira canta,enquanto,  a vida briga.

segunda-feira, 9 de outubro de 2023

 Deixei cacos de vidro espalhado na língua

A palavra saiu sangrando

Mas queriam poemas de borboletas 

Simétricos, leves e aparentemente inofensivos 

Sair jogando as palavras nas borboletas 

Só para mostrar que a vida não é perfeita.

sexta-feira, 6 de outubro de 2023

 Sobre nós, somos dois e o meu amor é meu. Ele cabe a mim e aos meus mistérios. Meu  amor não tem regras, bússolas e caixas. Ele não se encaixa entre o certo e o errado, nem pleno, nem plano,  tem mais caracóis que meus cabelos. Meu amor está acordado, sabe dos muros e dos limites, dos brilhos e lágrimas, mas grita, escuto seu barulho. 


O caminho é torto. A vida não é linha reta. Estou preso e solto na estrada e o amor se instalou.


Mesmo não estando sobre o tear das nossas peles, o amor está aqui. Mesmo panfletando a despedida, ele não se despede.


Alexandre Lucas 

sexta-feira, 8 de setembro de 2023

 Céu e  mar é imensidão onde os sonhos se perdem

Faz calmaria,  devaneio e reticências 

Vejo entre os véus  

Rabisco a felicidade na incerteza

No azul do mar e do céu 

Vou juntado retalhos 

Para tremular a bandeira poesia

Ficada no meio das nossas dúvidas 

Bandeira para acolher

O traçado das nossas línguas 

O verso feito de dedos e pétalas

Incendiar os olhos de simplicidade e ternura. 


Alexandre Lucas

quinta-feira, 7 de setembro de 2023

 Sobre o amor

Tenho relatório interminável

Algumas rasuras, 

Frases indecifráveis 

Dados frágeis 

Falso testemunho 

Fatos confiáveis 

Páginas que somam  mais de quarenta anos

Ainda tenho  noites não escritas 

Segredos não contados 

E muitas páginas em branco

Outras borradas 

Guardo tudo trancafiado na alma

Sem saber transcrever  boletins de ocorrência do amor. 


Alexandre Lucas

quarta-feira, 6 de setembro de 2023

 A poesia veio do tamanho da noite

Carregava olhos atentos

Versos de brilhos em silêncio 

Na palma aberta da sua mão            

trazia caminhos de borboletas e enigmas 

Tinha face de flor

Saiu no caminho da lua

Talvez tenha  ido brincar com as estrelas

Talvez volte, a poesia promete. 



Alexandre Lucas

quinta-feira, 20 de abril de 2023

 Sou o poema previsível 

O texto  esperado

O doce não percebido 

O acalanto para noites de trovão 

O dia calmo

O arroz e o feijão

O verso meloso, a bandeira de paz

Hoje tem poesia de novo, grito daqui

Mas a poesia não chega

Tão próxima que embaralha os olhos e tão presente que não faz falta

Insisto, a poesia não declarou viajem. 



Alexandre Lucas

segunda-feira, 13 de março de 2023

 Enquanto o céu chora 

Imagino  a gente sendo fogueira, 

Incendiando nossos corpos 

Tocando fogo na  razão

Revirando a cama 

vibrando os sentidos  

Uivando  de prazer

Enquanto o céu chora 

Debulho saudades

Reviso  teu sorriso

Sinto o gosto do tempo

Servido com bolo de cenoura,  cobertura de chocolate

Enquanto o céu chora 

Você bulina minha cabeça 

Faz versos sem escrever poesia

Quando quer, sorri 

E traz nos braços uma vaso de ternura do tamanho do sol e da lua

Enquanto o céu chora

Debulho o amor, indecifrável

A conexão indefinida 

E acordo o afeto

Ofereço a flor possível, 

Os pés que tenho 

E o desejo de estalar a felicidade, aqui, ali e entre nós. 


Alexandre Lucas


terça-feira, 21 de fevereiro de 2023

 

Escrevo cartas fora das linhas,

Vou ponteando os momentos

Lembrando dos versos sem palavras

Das nossas mãos e pés escrevendo bússolas

Da partilha do bolo, do suco e do riso

Do beijo e do livro

Vou me embolando nas histórias

Mas é tempo de guerra e despedida

Os lençóis ainda estão molhados

Não aprendi a dizer adeus, nem guerrear

Ainda acredito na carne que se atrita de prazer

No corpo que se protege

No poema cantado pelas manhãs para acordar alegria

e sussurrado a noite para acolher a felicidade.  

 

Alexandre Lucas

quarta-feira, 4 de janeiro de 2023

Queria desbravar jardins 

Encher os nosso olhos de brilhos 

Adoçar as manhãs com  abraços quentes

e uns goles de eu te amo 

Andar tranquilamente segurando a tua mão

Fazer cócegas no horizonte

Dançar com a grandeza do teu olhar 

Sentir o ventre e  a silhueta dos gemidos 

O cafuné e o gosto de café 

Escrever poemas para acender desejos e ressuscitar as borboletas 

Quebrar os relógios que marcam o tempo da felicidade

Deitar para ver a paciência das estrelas 

Acreditar no verbo construir 

Desenhar em várias mãos a felicidade do hoje e do amanhã. 



Alexandre Lucas

sexta-feira, 28 de outubro de 2022

 Apenas fui

O desejo que viajou

A tentativa de acertar 

O verso carregado de rosas

Os pedaços de bolo e brilho 

O descanso para o dia seguinte

O rosário de paciência

A mediação do conflito 

Os pés para acompanhar 

A partilha, o gozo, a massagem

A luta, o arar da terra, o plantar  

O café de final de tarde 

O pedalar, o livro e o sonhar

O preenchimento do horizonte

O chocolate amargo

O abraço  forte, quente e acolhedor

O manifesto companheiro

O poema possível para dias quentes e frios

O viajante da estrada que segue

O amor que não morre 

Em tempos de partida. 



Alexandre Lucas

segunda-feira, 3 de outubro de 2022

 Eu que não sou de aço

Sinto o vento e o fio da navalha 

A palavra e a mão que acaricia 

O ruído, a partida e a barriga 

A flor que seca 

Eu que não sou o aço

Destempero mais rápido 

Fácil me desfaço 

Como o fio frágil da aranha

Sigo, paro, choro, 

Tento, caio e grito 

Eu que não sou de aço

Faço-me sangue, mar e gozo 

Passo a corda,  sinto desejos, pedalo, estrago 

Trago no peito as pétalas das rosas e as folhas de seda

Os espinhos 

Os molotovs para incendiar o frio

As pedras, os paus, os  punhos e um megafone para gritar: 

Aqui não ė o aço. 


Alexandre Lucas

domingo, 2 de outubro de 2022

 As ruas camufladas de santinhos

Vômitos da noite passada 

Rostos pisados

Silêncio, clima de enterro

Pessoas disfarçadas

Temendo morrer 

Atravesso algumas praças agarrado em Cida   

Leio do início ao fim: Gris

Vejo a cor Cida-de

Nu verso da essência

Já consigo ver o sorriso da poeta 

Empunhando esperança 

Dançando com uma bandeira vermelha

A rua já pode ser outra 

Larga e construída de sonhos 

E com uma primavera de cidas! 


Alexandre Lucas

quarta-feira, 1 de junho de 2022

Os homens de azul

 Os homens de azul 


O homem preto, preso. Parecia nadar, desesperadamente suas pernas balançavam. Parte do seu corpo desaparecia, trancafiado, no carro de prender preto. 


Assobiavam os homens de azul, enquanto gritos pediam ar. O carro de prender preto fumaçava. 


Gás lacrimogêneo. O homem preto, preso, parou. Os homens de azul continuaram assobiando.


Alexandre Lucas

quarta-feira, 18 de maio de 2022

 

É cedo, cheiro de frio, clima de noite

Céu calmo, o luar residindo nos olhos

Do mirante, avista uma praia de desejos

Tão perto, ondas e dunas para percorrer com dedos e línguas

A respiração canta a dança dos olhos

Os pelos eriçados orquestram uma floresta microscópica

O relógio acelera

Enquanto se inventar novos encaixes

Aparecem os tremores, a caixa vai sendo descoberta

A chave aos poucos vai abrindo o mar de terremotos

Chegamos! Águas calmas, pele morna, música lenta

Olhos fechados, lábios mordidos e desejos molhados.   

segunda-feira, 10 de janeiro de 2022

Bandeira lençol

Tremulamos nas ruas de indignação

e no quarto com amor fizemos ventaria

na mesa pintamos a bandeira lençol

com bolo, tinta, fios, doces e cafés

Pedalamos e cavalgamos com ternura

A bandeira lençol estava alada

Erguida com punhos de um novo amanhã e dos nossos suores

Rios de prazeres, efêmeros momentos,

As nuvens já desaparecem, a noite chega

As paredes guardam lembranças

É tempo de embalar os sonhos

A bandeira lençol nunca dorme.

 

Alexandre Lucas  


segunda-feira, 30 de agosto de 2021

 

Hoje é um daqueles dias em que as palavras escapolem

Mas o desejo te dar palavras ocupa minhas inúmeras intenções

Acariciar tuas mãos com os versos mais fraternos do caminhar alado

Acolher tuas dores, com as palavras mais confortáveis

Desordenar teus sentidos, com sussurros ao pé do ouvido

Gritar alinhado ao teu grito,  desaforos contra o sistema apodrecido de exploração

Desvendar as palavras flores dos nossos jardins

Jogar molotovs incendiários da palavra solidariedade

Alinhas nossas bocas numa linguagem de fogo e carinho

Que não nos faltem palavras para dizer que o amor é uma construção diária.

 

Alexandre Lucas         

sábado, 28 de agosto de 2021

 Toda vez que acordava

Olhava para o céu
Ansioso,
Para saber se ele continuava no mesmo canto
Tudo muda
Mesmo o que parece improvável, como o céu
E a cada dia ao acordar
Esperamos que o céu nosso de cada dia continue no mesmo lugar.
Alexandre Lucas

quarta-feira, 7 de julho de 2021

 

Abrimos uma estrada para se cansar de felicidade

Escrevemos confidências e declaramos seguir

A estrada parece ser longa, vamos seguindo

A cada passo uma semente,

Quando cansamos, deve ter uma árvore cheia de sombra

Se não tiver, a gente inventa,

Só para ter sombra e ombros como travesseiros

Vai chover de nós, mas a gente está na peleja da estrada.

 

Alexandre Lucas           

 

Continua desescondida  a lua e o sol

Os versos de ternura

Aqui tenho tecido um manto de esperança

Que cabe os sonhos e o desejo de acertar

O alvo é a felicidade construída

Acredito nos bordados sinceros

Fiados com a profundidade dos olhos

E carregados das adversidades indesejadas

Nem sempre é possível fiar,  apenas,  com as linhas que escolhemos

E assim vamos deixando aparente a alma, carregada de mistérios

Deixo fios para que possamos costurar os risos rasgadas

E alimentar a crença de que o amor, é uma construção cheia de nós.    

 

Alexandre Lucas 

sábado, 26 de junho de 2021

Colher sementes como quem faz versos
Arar a terra, embrulhar as sementes e ir molhando
Fazer brotar flores
Para arregalar os olhos
Encadeados de felicidade
Colher sementes a cada instante
Para que o poema sempre se faça
Da simplicidade e dos encantos
Em que ir a esquina e ao jardim tenham a dimensão da viagem inesquecível.
O amor, talvez possa ser esse passeio perto, onde as sementes estão sempre brincando de nos encantar.

Alexandre Lucas 

segunda-feira, 7 de junho de 2021

  

O amor bateu na porta  

Era um amor magro e calmo, ainda ria

Mas do amor a gente não espera nada

O amor bateu na porta, pulou a janela

E bateu na cara

O amor pediu desculpas

Derrubou a porta e a janela

E nunca mais o amor meu viu.

 

Alexandre Lucas

quarta-feira, 5 de maio de 2021

 Era um preto

Já morreu velho 

Quando pequeno achava que era branco, o preto velho

Quando apareceu meu cabelo branco 

Descobrir que meu avô era preto

Acho que nem meu avô, um preto que já era velho 

Não sabia de sua cor.  


Alexandre Lucas

segunda-feira, 3 de maio de 2021

 Comi um poema sorrindo 

E com purpurina traquinando nos olhos 

Enchi a boca de palavras e soprei como quem sopra sonhos

O poema chegava na barriga e acordava as borboletas 

E elas saiam voando e pintando os versos 

 Dentre as palavras tinha bolo de cenoura e chocolate 

Feito para compor a melhores partes do poema 

A parte do tempo e do cuidado, do agrado e da maciez dos gestos. 


Alexandre Lucas

sexta-feira, 16 de abril de 2021

 

Você abriu a porta com aquele vestido aparente seios

E uma voz macia que parecia fazer cama

Seu corpo nu configurava na tela atravessado de facas e tesouras

Teus olhos cor de esperança declarava ternura

E escondia um turbilhão de segredos

Líquidos de uva, acalentava descobertas numa dislexia de afetos

Tuas palavras recheadas de mãos me faziam sentir a dança das folhas e os terremotos

Já conversávamos quase despidos, ainda não dava para ver as cicatrizes

Apenas os olhos famintos de quem quer descobrir o mundo numa noite

Enquanto isso nossos dedos se despediam com juras de cafuné.  

   

Alexandre Lucas

sexta-feira, 9 de abril de 2021

 

 

O momento é de abrir igrejas e de edificar valas

De erguer profetas do dinheiro e da mentira

De esconder o evangelho em butijas sem mapas

De fazer filas para o dízimo e para morte  

Quantos tombaram procurando deus entre as paredes

E nos humoristas do ódio, travestidos de pastores?

Mas o momento também é de negar a mentira

De eleger outras verdades,

De colocar na balança a ciência e a vida,

De segurar esperança e não desabraçar do que deixa a alma em pé.

 

Alexandre Lucas

terça-feira, 6 de abril de 2021

 Recebo confidências de amor em cartas rabiscadas de suor

Efêmeras paisagens de sonoridades de prazer

Lacradas de segredos,

 Se perdem nos quartos

As vezes encontramos abertas

Para lidas de saudade.

 

Alexandre Lucas 

domingo, 28 de março de 2021

 

Existe meio-fio

Entremeio

Meia

Meia dúzia

A vida existe, sem meia vida

Uma vida que jamais pode ser meia, importa

Meia dúzia de vidas importam muito mais

Não será meia dúzia que não se importam

Que mataram direitos e sonhos.  

 

Alexandre Lucas

sexta-feira, 26 de março de 2021

 

O amor veio numa barca

Era alto mar

O amor vinha, balançado

Quase virando,

O amor se aproximava

Mais ainda estava em alto mar

Era alto e era mar

Eu que não sabia nadar e tinha medo de alturas     

Pensava em me jogar

O amor continua numa barca no alto mar

Quase virando

Sempre chegando.

 

Alexandre Lucas  

sábado, 20 de março de 2021

 Guardo segredos de amores espalhados

Tento lembrar do último beijo

De quando a barriga viu borboletas e os olhos se encheram de purpurina 

Faz tempo que reside passos lentos e abraços desacordados

Tento acender uma fogueira batendo pedras em dias de chuva

Apesar do frio, ainda guardo amores espalhados.

 

Alexandre Lucas 

terça-feira, 16 de fevereiro de 2021

 

Tem um cachorro preso latindo por liberdade

Tem outro

De bucho cheio e solto

Travestido de bem, homem já é

Coturno verde e amarelo

Para aulas de continência

Versos de arma e ódio

Camufladas de Deus e de cidadania

Tem ossos espalhados

E cachorros famintos.

 

Alexandre Lucas     

segunda-feira, 15 de fevereiro de 2021

Chega com força, joga um monte de palavras

Dessas que faz a gente atolar de alegria

Fuxica sobre a beleza dos que vacilam

Aprender a caminhar sem atropelar

Desfaz-se das toxinas

Que tua boca espalha na beira do abismo, o ouvido

Fale—me umas coisas na beira dos olhos

Que me façam desejar andar contigo

Assim pode chegar com toda força.

 

Alexandre Lucas    


 O preto com outro preto 

Beijou sem mentiras a verdade 

Falou de corpos escondidos e de desejos encaixotados

Nada penteado, a realidade não tem maquiagem para filmagem

Beijou por mim, por nós e por quem se atenta 

Beijou pelas pretas e pelos pretos 

Beijou pelos corpos que se escondem todos os dias no armário 

Pois não podem sair penteado para amar

Beiijou para hipocrisia da casa e do mundo

Beijou como devem se beijar  os homens nas praças, sem dor e esconderijos

O preto beijou outro preto  para todo mundo ver e alguns se doer

O problema não é do preto, muito menos do beijo 

O problema talvez seja torturar o amor

Alisar a complexidade da vida

Dividir as carnes 

Como no frigorífico, onde o preço é  diferenciado.  


Alexandre Lucas

A notícia  anuncia que o café  esfriou 

E que o trabalhador tem que tomar alegremente frio

A sua força  de trabalho 

Na caminhada o filho e a  amiga do trabalhador resolveram queimar a notícia e esquentar o café

Para não beber de tanta injustiça. 


Aĺexandre Lucas

domingo, 8 de novembro de 2020

 

Estou vestida inadequadamente

Sair às pressas

O decote da vergonha já está esgaçado

A calça apresenta seus fios brancos e a sua fragilidade

A a blusa aperta o coração cinzento.

O rosto foi maquiado de alegria

 O cabelo está esticado para esconder a sua abundância verdadeira

As flores já não precisam de água, o seu plástico resiste.  

Inadequadamente degusto os sonhos da casa grande

Para se assemelhar aos seus donos.    

 

Alexandre Lucas

quinta-feira, 29 de outubro de 2020

 Vamos beber devagarinho

Para sentir a água escorrer entre a língua

Vamos bebendo sem pressa

Beber pela manhã, pela tarde quente

A noite quando as casas fizerem silêncio

Pela madrugada, acordemos para beber mais um pouco da vida

Que nunca se bebe só.  

 

Alexandre Lucas 

domingo, 28 de junho de 2020


Estava do outro lado da mesa. Uma jarra de lágrimas segurava nos olhos
Recortes do tempo, um cinema de nós, numa tela que só eu conseguia ver
Saudades liquidificadas num controle remoto desmantelado
O filme prosseguia, apesar de querer desligar, sem saber o final
Ainda reside cenas da primeira noite de pouca luz, de brilho forte e de algumas reticências
Fico calado e escrito de linhas e de algumas disgrafias
A jarra transborda enquanto o filme não termina.

Alexandre Lucas

quarta-feira, 13 de maio de 2020


A cortina de fitas coloridas dançava com o vento
A luz do sol começava a entrar
Escondia o frio com o teu corpo
A manhã se fazia uma grandeza
Teus olhos verde-azul faziam conexão
Com a sacanagem e a cumplicidade
Adentramos com delicadeza e vontade
Liquidados
Tomamos banho
Providenciamos uma garrafa com café
Sentamos na cadeira
E fiamos com ternura
Um caminho sem chaves e grampos.

Alexandre Lucas     

domingo, 10 de maio de 2020



Sou de muitos amores
Amo intensamente, por instantes e por um longo tempo
Tenho dias lua e de chuva, não escolho
O amor é sempre verbo    
E os caminhos são imprecisos
O amor não se guarda na caixa, muitos menos na cerca
Ele escapole
Já estou na esquina sem bolsa e sem venda
Vai que o amor passa na encruzilhada
E o céu abre, gente se encama
Embaralhar-se e depois cansa
Volto a seguir o toque e a poesia
Do próximo, instantâneo e efêmero amor.

Alexandre Lucas    

sábado, 9 de maio de 2020


Após um dia pintando, subindo, descendo, agachando
Sentindo o  cheiro e as cores da tinta
 Observando cada detalhe
A serenidade e a harmonia dos espaços e das formas  
O quarto já está pronto, lavado e com cheiro de rosas
É hora de refrescar, eu e você e nossas vontades
Um banho meio quente e meio gelado
Nós, nos deslizando de afetos
Na cama, a cânfora e a arnica nos espera  
Em camadas leves vamos aquecendo
Ardidos de prazer
Vamos nos provando,
Por dentro, por fora  e pelos avessos
Na ousadia da carne,  o amor é uma guerra
 Em que queremos morrer.

Alexandre Lucas 

sexta-feira, 8 de maio de 2020

Desde criança gosto de caixas de madeiras, baús
Quando criança escutava a palavra troço
Troço ruim
Se aquieta troço ruim, tão trivial como arroz ao meio dia
Convivi com troços de troçada uma vida inteira
Talvez esse troço da palavra e o troço da troçada
Fizeram-me gostar dos baús  
Em casa tenho baús que viram cama e mesa
Caixas de madeira de vários tamanhos
Guardo muitas troçadas
Os baús me ajudam a escondem tantos troços
Que nem sei os troços que tenho.

Alexandre Lucas 

quinta-feira, 7 de maio de 2020


A cama continua cheia, alguns livros que me levam a lugares que nunca fui  
O celular repleto de fotos e de estradas
A preguiça espalhada  
Mas a vontade era deixar a cama semivazia
Ocupada, apenas pela cumplicidade dos nossos corpos
Poderíamos viajar, conhecer cada ponto de felicidade
Conquistar em intervalos tremulações     
Teu corpo suado poderia fazer o distanciamento do tédio
A reciprocidade da pele e a temperatura quente
A cama cheia de nós,  enclausurados de gratidão
Nos beberíamos pelo meio, até desfalecer de amor.

Alexandre Lucas      

segunda-feira, 4 de maio de 2020


O espelho quebrado mostra rugas que não tenho
Faço cara de tristeza, medo e alegria e o espelho me acompanha
Tem dias que nem olho para ele, porque a paciência e o tempo  se encurtam
Se o meu espelho falasse
Contariam segredos imundos, dores imensas e quebraria com algumas felicidades
Tem horas que desejo  colocar a cadeira em frente ao espelho
Deixar um copo com agua do lado e ficar  conversando comigo
Tenho saudade de mim, apesar de me conhecer muito pouco    
Ligo a televisão, mexo no celular e sempre me vejo no espelho
Fazendo interrogatórios, e ele, o espelho, sempre  calado.

Alexandre Lucas    

domingo, 3 de maio de 2020

Era uma mesa antiga, continuava firme, madeira de lei
Fazia-se de tudo naquela mesa
Escrevia-se o poema, tomava vinho, reunia pessoas para o café
Resolvia-se as contas do mês
A mesa aguentava a tempestade e os corações de pedra
O tempo furioso e amargo
Mas aquela mesa também era sustentáculo do amor
Nos cabia deitado e sentado
Com o fogo e a ternura das nossas pernas
Com verso ardente dos olhos
 Com a língua sambando na pontualidade dos teus sussurros  
A mesa era forte e aguentava o beijo doce e os trovões que nos residiam.

Alexandre Lucas 

sexta-feira, 1 de maio de 2020


Um dia atípico, saia e batom vermelho
Você estava no jardim e fazia florir desejos
Sentia a brisa e queria que ela nos levasse para outro caminho
Onde o orvalho escorresse sobre os nossos corpos
E que pudesse colher dos teus grandes lábios uma música gemida
Espalhar a primavera sobre teus sentidos
Sentir brotar teu gozo
Mas não foi naquele jardim
Haverá outros jardins,  saias e batons vermelhos.

Alexandre Lucas 

Na porta de entrada tem grades
E eu me iludindo que a casa é sossego
É jaula de ilusões, onde o sol e a liberdade não entram por inteiro
Faz silêncio, desliguei o celular, fui ver as flores,
Sentir o calor no quintal, as flores não alimentam os meus sonhos
A sobrevivência pede socorro, olho para o céu e ele faz silêncio  
Grito para não me sentir só e escuto gritos vizinhos.

Alexandre Lucas  

quinta-feira, 30 de abril de 2020



Quantas histórias amassadas guardamos no sofá, na cama e no armário?
Foi apenas uma ameaça de que seriamos felizes,
As raízes eram fracas, a atmosfera inconstante
Logo, a paixão efêmera   
O amor era muito bom, até hoje faço coleção das cenas    
 Guardo algumas na sala entrada ou outas na despensa
A conclusão é que as histórias não passam, te atravessam.

Alexandre Lucas    



No cinema do quarto disse mentiras verdadeiras no teu ouvido
Escuto, a cada encontro com corpos singulares frases similares
O amor preparado na cama tem dessa trama
De intensidade, verdade e mentira
Tem a palavra repetida
Como comida do dia a dia     
Mas em cada casa
Os contornos não se repetem.  
  
Alexandre Lucas

quarta-feira, 29 de abril de 2020

Escutava o som da floresta
Fazia sol, tinha sombra próximo as águas
As folhas dançavam de vez em quando
Brincávamos na água, tua roupa, um vestido azul
Molhado, transparecia teu corpo
Tua pele acordada e teus lábios salientes
Fizeram mel, durante a tarde inteira
Depois você desapareceu
Como as águas do rio
Que sempre estão de passagem.

Alexandre Lucas 
Quase que nos enroscamos na escada
Estava escuro e o ambiente cheio de dúvidas  
Adiamos, por alguns instantes demorados
Mas o ar tinha intensidade
A roupa leve se debulhava  
Sentia o relevo da tua tatuagem entre os seios
Tão singelos que cabiam na palma da mão
O arrepio se anunciava
Já estávamos tomados pela liberdade e o sussurro
O espelho do nosso tamanho duplicava o nosso prazer
Cavalgamos na rede, num galope a beira da loucura
Nossas bocas flácidas se visgavam      
Nossos olhares de mordiam de prazer
E a paixão vai se enrocando em cada escada.

Alexandre Lucas 

terça-feira, 28 de abril de 2020


Nos desencontros estamos tentando nos encontrar
Ainda não sabemos quando será a trilha ou próximo chá  
Se nos encontraremos novamente no samba ou no banco da praça
Ainda é cedo, tem pouca luz e o caminho é incerto
Vamos fazer acontecer a hora
A gente junta essa amizade coloca em tigelas de carinho
Acende um incenso da paz, deixa a roupa cair
Vamos brincando com a flor e os lábios
Com os cachos e os sonhos
No outro dia escreveremos sobre nossos segredos
Em cartas sem destinatários  
Combinaremos em linhas embutidas a nossa costura
Para  que o nosso amor seja livre e sem escrituras
Assim como a nossa amizade.

Alexandre Lucas     

segunda-feira, 27 de abril de 2020



Deixamos a louça esperando para outro momento
O celular tocava um blues de morder os lábios
O chão cheio de almofadas acomodava nossas conversas     
Entre poemas e goles de café, orquestramos nosso olhar
A geleia ainda gelada foi passada como tinta no teu e meu corpo
Nossas bocas como pincéis deslizavam em nossas telas corpóreas   
Pintura de arrepio
Conflito saboroso, em que duelam sem vencedores os desejos  
Inexiste foto desse momento ou notícia em jornal
A verdade é que registramos tudo, até o que não foi realizado.

Alexandre Lucas   

domingo, 26 de abril de 2020

Desfaçamos do nosso apartamento
Ele fica vazio, com poucas luzes,  frio e cinzento
A porta ficar emperrada
Falta comida, palavras e alguém para escutar
As torneiras jorram lagrimas e os canos de tanta dor quebram
Fiquemos no relento
Olhando para os céus
Vendo as flores crescerem no horizonte e entre os nossos pés
Lembra?  Já dormimos olhando para as estrelas
E num quarto quente que tinha formato de ferro de engomar
Caminhamos com bandeiras estendidas e divagamos sobre a vida
Tem um forno de saudade, em que o tempo vai aquecendo
Histórias de ternura e cumplicidade
Contínuo querendo dividir os cafés, chás e biscoitos
Saber dos teus sonhos e das luas, aquelas que são só tuas
Enquanto escrevo te vejo, uma balzaquiana indecifrável
Parece que algo parou no tempo, logo o tempo que não para
Nossos cachos precisam da luz dos nossos encontros
Prefiro a nossa casa que tem risos e onde posso te chamar de irmã
Onde a palavra camarada faz sentido,
Tratemos de desafazer desse apartamento, ele não nos cabe
Somos tão grandes juntos e ele fica tão espremido.

Alexandre Lucas

Comprei vinhos e flores
Esperei até a meia noite
Dormi embriagado com cheiro de flores
No outro dia chá forte de boldo
Na rua de caminhos embriagados    
Já não espero
Desisto fácil dos amores impossíveis
E dos incompatíveis
Guardo flores ressecadas e garrafas vazias
Mas hora e outra, encontro copos cheios de felicidade  
E pescoços cheios de cheiros.

Alexandre Lucas 

sexta-feira, 24 de abril de 2020



Que seja para iludir uma tarde ou uma madrugada
Iluda,
Deixe-me passarinho, passeando e voando
Sentindo o suspiro profundo
Cantarolando palavras da cama
Euforias, teu mar salgado
Inunda minha sensatez
Tua voz suave
Quebra as pedras que ainda me restam
Longe das vestes falo sem pontos
E me embaralho nas tuas coxas
Iludo-me e como grão de areia se espalho
Iluda-me,  apenas por um instante.

Alexandre Lucas

quinta-feira, 23 de abril de 2020


Deixou uma poesia escrita
No quarto daquela cidade de mar
Meio dia e meia noite nos encontramos  
Atravessamos a madrugada
Enquanto nos alinhava  
Com fome, sede, verso e sexo
Parecia que tinha tomado um litro de vinho e algo mais
Eu que não bebi nada
Embriaguei-me
Apenas com o teu sabor salgado e muito molhado
Logo cedo você saiu
Com olhos de quem escreveria outros poemas
Como os daquela noite,
Em cima da cama
Ficou seu cheiro e uma calcinha branca.


Alexandre Lucas

terça-feira, 21 de abril de 2020


Tem horas que os teus olhos têm o brilho de vênus

Talvez seja na hora da curiosidade
Quando o desejo ancestral, pré-histórico do entrelaço se acha
Quando a boca e o ventre se encontram em beijos   
Acesso os teus olhos tem mais encantamento   
Fico pensando, são tantas histórias e posições 
Acho não teria um arquétipo que narrasse a pulsão
O intervalo entre um respiro e outro é mais veloz 
Quando toca fogo nos sentidos 
Em chamas teus olhos tem um sabor delirante
Certamente, pela proximidade com o sol profano 
Em que o espanto se condensa em tramas de prazer. 

 Alexandre Lucas 

domingo, 19 de abril de 2020

Na vermelhidão da noite
A luz do pecado ganha forma
Rabiscos na ponta dos dedos, deslizam em cada curvatura  
Na mesa uma taça de vinho para banhar teu corpo,  gole a gole  
Insano o traço da tua boca, deformada de beleza
A noite segue com um movimento intenso
Molhamos nossos lábios de vinho e de beijos
E a noite vai ficando cada vez mais vermelha.

Alexandre Lucas 

sábado, 18 de abril de 2020


Como será teu corpo e tua pulsão?
O que esconde por trás da máscara?
Convide-te para um chão de alecrim com folhas verdes de hortelã
Venha com roupas leves, o chá poderá está muito quente
Normalmente o tempo esquenta e as roupas não fazem sentido
Quero ouvir de perto, sentir a ponta da tua língua no ouvido  
Enquanto  descreve com os olhos o que esconde
Deixa cair tua roupa leve e a pele se transpor
O ar toma outra dimensão
Quando a alma é atravessada
Por uma espada de afagos  
Deixar fluir o cheiro da rosa, a mente a faminta
E nossos encontros para o romper o silêncio dos chás.

Alexandre Lucas  

Quantos faltam para tomar o poder?
As casas cheias de gente e pouca comida, anunciam a ira
Quantos faltam para tomar o poder?
A fome não é um romance
Quantos faltam para tomar o poder?
A dor social é uma chuva de desigualdade
Quantos faltam para tomar o poder?
Estamos no limiar da paciência
Quantos faltam para tomar o poder?
A exploração e a opressão é intensa
Quantos faltam para tomar o poder?
Sozinhos e com as melhores ideias, não se faz revolução  
Quantos somos e quantos faltam?
Grávida está a barriga dos nossos sonhos
E a interseção das nossas lutas
Vamos beber no seio da esperança
Multiplicar os nossos braços, ampliar nossas vozes
Tomar o poder
Dividir o que nos foi negado
Encher a casa do necessário
Compartilhar a poesia da fartura   
Tocar um novo sonho
Onde o povo seja felicidade e necessariamente poder.

Alexandre Lucas