domingo, 1 de outubro de 2017

Que os traços simples
Desenhem
Podem ser nuvens
Passageiras até
Intensas e leves
Que refaçam brilhos 
Que brinquem com a imaginação
Que sentem na calçada 
De uma praça qualquer 
Tome sorvete 
Para instigar o desejo 
Que seja simples 
Como o arroz e feijão
Tão trivial e necessário 
Esse é o requinte 
Mastigado na delicadeza 
Que transforma o vago, o simples 
Num verso de encanto.

Alexandre Lucas

Comuna de prazer
Eis a cidade corpo
Com suas avenidas e curvas
Suas casas e suas fabricas de sonhos
Suas vielas molhadas
O detalhe dos altos 
Querendo se libertar das rendas 
E entre palavras e imagens
Teu corpo comuna se materializa 
Teus olhos se fazem semáforos 
De uma só cor: Verde 
Vou atravessar 
Para temperar o aperto nos lábios 
Para sentir o engarrafamento dos corpos 
Impregnados de humanidade
A cidade fria e a cidade quente 
Pede um tempo comuna 
Em que corpo seja uma canção fraterna 
De uma terra solidária
Que as mãos se misturem com as bocas
Para construírem rios de turbulentos gemidos 
Com casas fartas de pão, risos e emancipação.

Alexandre Lucas


Minha vó
Ensinou-me a escolher laranjas e pequis
E tentou ainda me ensinar a desenrolar sacos numa paciência interminável
Talvez sacos não sejam difíceis de desenrolar
Já a paciência é outra coisa
Lembro-me daquela senhorinha 
Franzina, cabelo branco e disposta
Dona Maria 
Como muitas marias 
Perdeu parte do brilho da vida 
Perdendo a vida do filho 
A rede de vó balança na memória 
Como a casa cheia
e o desejo de aprender a desenrolar sacos.

Alexandre Lucas


Entre tentar e fracassar
Guardo uma coleção de amores
Escrevo com as lágrimas ditando palavras inchadas de saudades
Dos risos soltos e dos largos prazeres cantarolados em gemidos
Histórias partidas
Como a maçã mordida
Que não se recompõe.

Alexandre Lucas

Afaste-se
sangro pela boca
A mesma que pronuncia o verbo do gozo e dar dor
Estou em rios
Como uma menstruação
Esvai-se parte que se renova 
Não chegue perto 
Deixe-me sagrando 
Enquanto escuto 
Os barulhos das correntezas sanguíneas.

Alexandre Lucas

Eu me mato
Com um cordão de verso no pescoço
Já é tarde e a indiferença ainda dorme
Nem perceberá a minha despedida
Tive pressa
E o amor não chegou 
E entre a flor do bem me quer ou mal me quer 
Prefiro sair e pular 
Da ponte que a desordem pariu.

Alexandre Lucas

Angu
Milho, sal e água
Algumas mexidas
E como a vida
Vamos (nos) mexendo
De angustia em angústia
Na brevidade na dor 
Abreviamos até a angústia
Como sinônimo de intimidade.

Alexandre Lucas

Houve um momentâneo assassinato
As ruas da alma ficarão na escuridão
Fizeram tabuleiro de desprezo e de tristeza
Na precisão da vida
Chutou-se os tabuleiros
Para ressuscitar o alivio.

Alexandre Lucas


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